A matemática, contrariamente ao que se possa pensar, não é uma barreira, mas um elo de ligação. E foi isso que o Centro de Educação Especial (CEE) da Santa Casa da Misericórdia de Bragança quis mostrar, com um projeto que anda a desenvolver ao longo de vários meses.

O objetivo, segundo a diretora técnica do CEE, Anabela Pires, é incentivar as restantes instituições do distrito de Bragança a promover atividades e exercícios de estímulo cognitivo entre os utentes, mas também que “saiam de portas”. “É isso que se pede hoje em dia às instituições, que se diluam, que se congreguem, porque não há concorrência possível quando cada um acaba por ter a sua marca social, então acabamos por nos completar. Se essa visão for instaurada e sentida pelos líderes com quem trabalhamos e todo um corpo colaborativo, tenho a certeza que a evolução de todos nós poderá ser muito maior”, defendeu.

O projeto, que está a ser desenvolvido desde o início do ano, culminou nas primeiras Olimpíadas da Matemática Adaptada, a Matadapt. Esta iniciativa juntou 56 idosos e pessoas com deficiência, de 16 instituições do distrito de Bragança, no Centro de Educação Especial de Bragança.

A coisa parecia séria e alguns até estavam nervosos para realizar a prova, em papel, com vários exercícios de memória, lógica e raciocínio. Mas, no final, todos disseram o mesmo, “foi fácil” e era evidente a alegria no olhar e no sorriso.

Os utentes com deficiência foram até os primeiros a abraçar o desafio da Matadapt, ultrapassando todas as barreiras. Maria Irene Magalhães, utente da APADI, instituição em Bragança para pessoas com deficiência, é a prova de que as limitações são muitas vezes colocadas pelos outros. Tem 59 anos e adora jogos para estimular a memória. Por isso, confessa que estas olimpíadas a deixaram “feliz”. “Não acho isto difícil, acho que é fácil. É preciso ter boa memória. Sei contar, sei ler e sei escrever”, frisou, contando que também faz teatro.

Segundo Sofia Morais, da APPACDM de Mirandela, este tipo de atividade é “bastante importante” e para “tudo o que seja para sair da sua zona de conforto”, os utentes estão “sempre prontos”. Mas a prova não foi levada a brincar pelos utentes desta instituição. “Ficaram muito nervosos no início, mas agora estão a usufruir da atividade”, adiantou.

A APPACDM de Mirandela desenvolveu várias atividades para preparar os utentes para a prova. Qual não foi o espanto, quando os participantes mostraram ser muito mais capazes do que aquilo que se pensava. “Quando começámos a treinar eles nem queriam fazer as contas no papel. Era tudo de cabeça e nós ficámos surpreendidos. Já sabíamos que eles tinham capacidade, mas são rápidos”, contou, acrescentando que “adoram fazer as fichas de matemática”.

Através das olimpíadas, os mais velhos também colocaram em prática o seu conhecimento e mostraram a sua rapidez de pensamento, promovendo assim um envelhecimento ativo, mas também o convívio.

Com 70 anos, Lisete Batista, utente da Residência Sénior do Hospital Privado de Bragança, também não perdeu a oportunidade de participar nas olimpíadas, que disse terem sido “formidáveis” e que lhe permitiram estar “mais ativa” e em “convívio”. “Ajuda a passar melhor o tempo, que às vezes custa a passar, assim estamos ocupados e é muito bom, faz bem à cabecinha”, afirmou.

Este tipo de atividades e ações contribuem para a “valorização” dos idosos, a sua “integração” e até para destacar as suas capacidades, defendeu a diretora técnica da instituição Partilha dos Afetos, de Rebordãos, outra das instituições particulares de solidariedade social que não quiseram deixar de participar nas Olimpíadas de Matemática Adaptada.

Segundo Jacinta Pinto, os mais velhos é que são os “sábios” e dão “uma lição” aos mais novos, que vivem no “mundo da tecnologia” e precisam da “calculadora” e do “telemóvel” para fazer contas. Reconhece ainda que estes exercícios são importantes para o desenvolvimento cognitivo. “Acaba por ser uma estimulação. Feito diariamente para eles é ótimo”, vincou a responsável do lar de Rebordãos.

Mais do que realizar a prova em si, para Anabela Pires, diretora do Centro de Educação Especial da Misericórdia de Bragança, o determinante foi “as pessoas encontrarem-se num momento e espaço distinto”, de forma diferente do habitual, numa iniciativa que promoveu o “bem-estar, convívio e socialização”.

Criado em 1968, o Centro de Educação Especial de Bragança pertence ao Instituto de Segurança Social, mas é gerido pela Misericórdia de Bragança desde 2013.

Voz das Misericórdias, Ângela Pais