Nasceu em Extremoz, concluiu o ensino secundário, licenciou-se em Línguas e Literatura Moderna na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. O ensino de português levou-a até ao Barreiro. “A minha escola estava inserida num bairro social, sempre gostei de ajudar os outros e só podia trabalhar num bairro social”, contou ao VM, Sara Oliveira, provedora da Misericórdia do Barreiro, que também é professora no Agrupamento de Escolas de Santo António.

“Por ironia do destino, o meu marido ficou com Alzheimer, com alguma prematuridade”, disse antes de receber o galardão ‘Barreiro Reconhecido’, por ocasião do 41.º aniversário da elevação do Barreiro a cidade, no passado 28 de junho, reconhecimento partilhado com “todos os trabalhadores” da Misericórdia.

Por causa da doença do marido (entretanto falecido), “entrei como voluntária (2000), fui convidada, em 2005, para os corpos sociais, fui vice-provedora e em 2012 assumi o cargo de provedora da Misericórdia”, descreve.

Escola e Misericórdia, professora e provedora, são, para Sara Oliveira “uma lição de vida”. Recebeu outra. “Tenho uma filha a quem devo muito por estar aqui, sempre me acompanhou e incentivou para continuar esta missão, muitas vezes, em detrimento do meu presente”, confessa.

Recorda a vida no bairro social. “Sempre foi multicultural, pessoas de várias partes do mundo, e dava-nos gozo, desculpe a expressão, ensinar português a quem não sabia”, relembrou. “Para mim, era muito importante conseguir transmitir a nossa cultura e língua”, frisou a provedora, que, em 2023, recebeu da União das Misericórdias Portuguesas a medalha de Mérito e Dedicação por serviços prestados às Misericórdias.

Procura transmitir “serenidade e amor”. Assegura que “se não houver amor, não conseguimos fazer nada, é fundamental”. Socorrendo-se da frase do “poeta da Arrábida (Sebastião da Gama) que diz: o importante é amar”, exclama antes de subir ao palco no Auditório Municipal Augusto Cabrita, no Parque da Cidade, no Barreiro.

Atualmente, a Misericórdia do Barreiro tem diversas respostas sociais. Lar, cuidados continuados, apoio domiciliário, comunidade de inserção, cantina social, creche, entre outros. “É uma grande empresa. Acho que somos o primeiro empregador privado do concelho. Hospital, Câmara e nós”, hierarquiza.

Sara Oliveira e a Misericórdia do Barreiro depararam-se “com muitos desafios”, muitos dos quais “ficam pelo caminho” devido à “falta de capacidade financeira”, afiança. “Mas, tentamos sempre, na medida do possível, dar mais qualidade aos nossos utentes”, vinca. “Às vezes, sentimo-nos frustrados porque não conseguimos. O Estado nem sempre percebe que precisamos de mais dinheiro para dar melhor qualidade aos utentes”, realça. Lamenta ainda que a Misericórdia esteja a “passar uma fase muito difícil em termos de contratação, sobretudo na área da saúde”, aponta.

Ao fim de um quarto de século na Misericórdia, reconhece faltar-lhe algo. “Um lar de Alzheimer”. Não é um tributo ao marido, “é uma homenagem a todas as pessoas que precisam”, manifesta.

Voz das Misericórdias, Miguel Morgado